O amor, o tempo e o divórcio

Ah! o amor, continua sendo o sentimento mais desejado por todos nós. Além de lindo, e de mover montanhas, é de longe a mais insistente crença das pessoas. No Brasil, o tão alardeado sangue latino permanece deixando a emoção falar mais alto quando o coração acelera ou quando simplesmente, a família e/ou a sociedade exige uma satisfação, digamos assim. Por essas razões, o número de casamentos continua alto, assim como o número de divórcios.

Lamentavelmente, a constatação do crescimento dos divórcios durante e pós-Pandemia não deixa margem para dúvidas: as pessoas se mantêm juntas, porque convivem pouco. Dia a dia corrido, marido e mulher trabalhando, às vezes apenas um deles, mas fato é que o tempo que sobra para o “amor” e para conviver, realmente, é muito escasso. Excesso de trabalho, filhos, parentes, funcionários, administração da casa e, obviamente, o tal “amor” tem seu declínio natural na lista de prioridades e acaba se esvaindo pouco a pouco pela simples falta de tempo de cultivar a intimidade e a cumplicidade de outrora.

A Pandemia mostrou isso. O amor ainda é lindo e, por vezes, se mostra inabalável. O período totalmente atípico vivido de isolamento completo fez com que alguns casais se reinventassem. Pessoas se reencontraram emocional e até fisicamente, redescobriram o que os uniu outrora, tirando de letra os obstáculos e as tantas angústias vivenciadas pela súbita prisão imposta pela Covid-19. Porém, a grande maioria, aliás a maioria esmagadora dos casais, viu sua relação falida por completo.

O confinamento para muitos, acabou como um momento obrigatório de reflexão individual, de extrema autocrítica e, curiosamente, uma espécie de “libertação”. Libertação foi a palavra que mais ouvimos no escritório para “justificar” as decisões de divórcio tomadas durante e após a Pandemia. No entanto para a maioria dos casais que “encontraram a tal libertação” – que entendemos ser legítima – durante o período pandêmico, vimos com tristeza a incapacidade de pensar no “nós” e nos impactos do que a atitude exclusivamente pensada no “eu”, que reflete nos demais envolvidos, notadamente no outro par, este totalmente ignorado, e ainda, nos filhos, que mesmo que considerados, acabaram sendo deixados de lado frente a ânsia da “libertação individual” daquele que, supostamente, mergulhou em si mesmo e resolveu agir após ou durante o isolamento forçado.

O olhar para si mesmo, capaz de questionar tantos porquês que ficaram muito tempo engavetados, sem respostas, justamente pela falta de tempo, fez eclodir, por óbvio, diante de tanto tempo ocioso, uma enxurrada de angústias, descontentamentos e perguntas sem respostas que, se feitas, teriam sido respondidas facilmente, mas não havia tempo para isso. A falta do tão precioso tempo nas relações entre os cônjuges, não permitiu.

Assim, a Pandemia foi e ainda está sendo para as pessoas “sem tempo”, como o rompimento de uma barragem, que de tão feroz, não permite mais a pergunta, que então ficará sem resposta pois não deu tempo. Triste, a falta de tempo mostrando-se sempre como poderosa vilã que impõe ao amor o último lugar na pauta da vida.

Por Giovanna Andreotti Andrea Junqueira, sócias fundadoras Andreotti e Junqueira Advogados e especializadas em Direito de Família e Sucessões.

O ESCRITÓRIO
Andreotti e Junqueira Advogados atua exclusivamente em Direito de Família e Sucessões. Suas sócias são especialistas nestas áreas, tanto na esfera consultiva como contenciosa.

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